sábado, 31 de outubro de 2009

Abertura


Monte de Fralães situa-se quase no extremo sul do concelho de Barcelos, ao lado de Viatodos, Silveiros, Chavão e Grimancelos. É atravessada a nascente pela estrada nacional que liga Barcelos a Vila Nova de Famalicão e encosta-se, pelo poente, ao Monte d’Assaia, em cujo cimo nasceu.
Foi noutros tempos uma freguesia rural como as suas vizinhas, mas a sua agricultura está hoje reduzida a muito pouco.
O nome actual da freguesia é uma abreviação de S. Pedro do Monte de Fralães. Durante séculos, chamou-se apenas S. Pedro do Monte. Como, porém, toda ela se integrava nas terras de Fralães e no seu Couto e Honra, a partir de certa altura torna-se uso chamar-lhe S. Pedro do Monte de Fralães. Eliminado o orago dos nomes da freguesia, ficou a designação que é agora oficial.
Monte de Fralães não vem nas Inquirições de 1220. Não se sabe porquê, pois que o Censual do Bispo D. Pedro, de cerca de 140 anos antes, já a mencionava, como S. Cristóvão de Silveiros. Mas o texto das Inquirições de 1258 é deveras interessante. Veja-se:

D. Mendo, abade da dita igreja, jurado e interrogado, disse que o rei não é padroeiro, mas tem aí o seu reguengo, a saber, o monte da Saia, como está delimitado pela porta da cidade de Lenteiro, a seguir pela pedra que está entre o reguengo e a senra, a seguir pela Fonte Peolhosa, a seguir vai pela Valo do Capítulo até à Bouça, a seguir até ao Fojo Lobal, a seguir pela porta da Ventosa. ...
... não há aí foreiros nem honras novas ... porque é honra antiga de D. Paio Correia.


Baste-nos por agora fixar a atenção em dois aspectos: a cidade de Lenteiro e D. Paio Correia.
Através da cidade-citânia de Lenteiro, podemos mergulhar no passado do espaço em que nasceu a freguesia e outras de seus arredores; o nome de D. Paio Correia aponta o futuro, pois em Monte de Fralães muito dependeu da família deste homem. O Concelho de Fralães surgiu devido a ele e subsistiu durante meio milénio; na origem da Confraria de Nossa Senhora da Saúde também estão os Correias. Aliás, todas as terras da freguesia pertenceram a esta casa.
Da palavra Fralães não se conhece o étimo. Mas sabe-se que este topónimo teve as variantes Farlães e até Farelães. Esta última, recente, pretendia ligá-lo a farelo; para Fralães, alguém fantasiou uma impossível derivação a partir de fraga. Seria mais sério procurar um étimo gótico, talvez no nome bastante comum Fradila, que, através do sufixo –anis, dava logo Fradilanis; daí para Fralães, o caminho era rápido e seguro. Contra isto, levanta-se contudo o facto de a forma mais antiga conhecida, referida nas Inquirições de 1258, ser Farlães. Mas o Pe. Jácome Dias, em 1564, já escreve Fralães.

Imagens: Brasão e duas vistas panorâmicas de Monte de Fralães.

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Retrato da Freguesia

A Igreja Paroquial

Conforme a vemos hoje, a Igreja Paroquial de Monte de Fralães remonta à segunda metade do séc. XIX, quando foi construída a torre.
Olhando o seu interior, na capela-mor, além do indispensável altar, merece a atenção o retábulo respectivo, de invulgar qualidade para um pequeno templo de aldeia. Deve integrar-se no estilo rocaille, de quando alguém escreveu que a Confraria, a que então a igreja pertencia, era opulenta. No lado esquerdo do retábulo, vê-se a imagem de S. Pedro, o padroeiro; do lado direito, S. José. Na parede deste mesmo lado, há ainda a imagem de Santo António.
Junto ao altar e aos lados, estão o belo ambão, aquisição recente, e duas artísticas eças antigas, em pau-preto.
Recuando ao corpo principal da igreja, encontramos ao direito o nicho do Sagrado Coração de Jesus e ao lado esquerdo ode Nossa Senhora da Saúde. São uma óptima imitação neoclássica.
Um pouco mais atrás, do lado direito, olha-nos o púlpito e, frente a ele, a imagem da doutora da Igreja Santa Teresinha.
À entrada, à esquerda, fica o baptistério. Óptima também a qualidade da Pia Baptismal. Por cima fica o usual coro.
Do lado poente da capela-mor, está a sacristia e, entre esta e a torre, um pequeno salão, onde se destacam um magnífico arcaz e dois ex-votos suspensos da parede. No arcaz guarda-se, entre outras coisas, o arquivo da Confraria.
Por cima desta divisão, há um outro espaço, onde se encontram principalmente alfaias litúrgicas e uma porção de velharias.
Umas palavras mais sobre os nichos da Senhora da Saúde e do Sagrado Coração de Jesus: eles são basicamente iguais e resultaram sem dúvida duma mesma encomenda. Mas cada um deles foi pensado para a imagem que recebeu: o da Senhora da Saúde tem no «frontão» um símbolo mariano, a coroa; o do Sagrado Coração de Jesus tem no mesmo lugar os Dois Corações (o do Sagrado Coração de Jesus e o do Imaculado Coração de Maria). A cor do forro da parte posterior dos nichos também se adequa às personagens representadas. As suas imagens têm sensivelmente a mesma altura, ajustada ao espaço, mesmo sendo de materiais e qualidade diferentes.
Parece claro que estas imagens datam do mesmo tempo. A original da Senhora da Saúde terá sido então substituída e representaria a Mãe de Deus com o Menino, como se vê nos dois ex-votos da sacristia. Dessa antiga imagem, há notícia na Casa de Fralães.
Esta igreja deve certamente muito ao P.e Pedro Rodrigues, falecido em 1948. Ele ter-lhe-á renovado, por exemplo, quase todas as imagens, que estão bem longe da banalidade. Da do padroeiro, por exemplo, é conhecida uma anterior.
A do Sagrado Coração de Jesus é também uma excelente imagem. Foi oferecida por Luís Vilares, que por sinal também ofereceu um riquíssimo manto para a da Senhora da Saúde. Isto aí por 1915, no rescaldo ainda da consagração do mundo ao Sagrado Coração de Jesus, que ocorreu em 1898.
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Imagens: Igreja Paroquial, parte do retábulo do altar-mor, nichos do Sagrado Coração de Jesus e de Nossa Senhora da Saúde, imagem de S. Pedro (o padroeiro), pia baptismal.

O Adro

O P.e Pedro Rodrigues executou no adro grandes obras na década de 30 do séc. XX. Foi então que se construiu o paredão de suporte, a nascente, e o pequeno escadório. Na mesma altura deve ter sido construída a Casinha das Esmolas ou da Cera. Há umas duas dezenas de anos o piso do adro foi também beneficiado.
Quase em frente ao escadório, ainda no adro, ergue-se uma oliveira. Aquando do aterro, o seu tronco terá ficado submerso até à ramagem, mas revigorou-se e lá continua como se nada de tão estranho se tivesse passado.
Nos seus Apontamentos para a história de Santa Maria de Quintiães – Barcelos (Póvoa de Varzim, 2005, p. 529), escreve Manuel Baptista de Sousa estas palavras, que podiam ser ditas para Monte de Fralães:
Dentro do recinto do adro havia uma mesa de pedra popularmente conhecida por Pedra do Acordo ou Pedra da Paciência ou Pedra do Adro, onde se reunia, no fim da missa conventual, a Confraria do Subsino, composta pelo Juiz da terra e os homens da Fala – falou, está falado – os Homens do Acordo, eleitos todos os anos. O povo tomava conhecimento da forma de dar cumprimento às ordens do Visitador ou de as impugnar, bem como das decisões régias. Por vezes tornavam-se conflituosas essas sessões públicas sendo obrigados os Eleitos a refugiarem-se na Igreja para escapar à ira popular. Até ao sol-posto, hora imperativa da paz!

Nos registos paroquiais de Monte de Fralães há alguma memória da Confraria do Subsino. O seguinte termo de eleição de 1616 deve ter a ver com o juiz respectivo:

Foi eleito em cabido geral que se fez na forma acostumada, a última oitava do Natal, para servir o ano que vem, a Bento Gonçalves, da Porta, ao qual, tomadas as contas ao mordomo velho, foram entregues os setecentos e setenta em dinheiro, com a taleiga e o meio pau de cera. E assinou comigo, Tomé da Guarda, abade.
Tomé da Guarda.
E declaro que nesta quantia acima vão as moedas que andavam no tesouro, que se desfizeram.
B.to + Gz

A Pedra do Acordo data de 1673. A cavidade daquele assentos de pedra em redor indica acaso que eles eram a base das cruzes dum pequeno calvário.


Terreiro

Descendo do adro ao terreiro, entra-se numa área largamente arborizada onde se destacam os dois coretos e algumas mesas de pedra com os respectivos bancos. Um pequeno muro de suporte divide uma zona mais alta, a poente, duma outra, a nascente, por sua vez suportada também por um paredão erguido a partir do passal. Era aqui, uns metros em frente ao escadório, que noutros tempos se levantava a «igreja velha», a matriz trazida do cimo do monte em 1564. Uma antiga oliveira ainda guarda dela alguma memória.
Ao lado esquerdo do escadório que dá para o cemitério, ficava a residência paroquial; o lugar é agora ocupado por um salão recentemente construído a partir das ruínas da residência demolida. Mais para norte, encostado ao monte, está o Fontanário da Senhora, construído por Aires do Rio sem dúvida na segunda década de 1900.
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Imagens: Pedra do Acordo e oliveira secular, no terreiro.

Alguns lugares de Monte de Fralães

Numa freguesia há lugares que desaparecem e outros que se criam, pois a vida não pára. Os topónimos que as Inquirições de 1258 assinalam estão hoje todos esquecidos. Esquecido está também o lugar do Paço, que ficava logo no início do monte para quem ia do terreiro.
Lugares que noutro tempo tiveram a sua importância hoje não a têm, como é a Porta, o Rio, a Granja ou mesmo Urjães. Em compensação o recente lugar das Almas e o da Agra, ermos até há décadas, são agora dos mais povoados. A Granja e o Monte ganharam também importância em anos recentes.

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A escola

Durante muitos anos, a escola do primeiro ciclo do ensino básico, então escola primária, sem edifício próprio, ocupava a sala da residência paroquial. Cerca de 1960, um emigrante do Brasil, da Casa dos Silveiras, ofereceu uma escola à freguesia. Possuía uma só sala, que não havia necessidade de mais, mas tinha os requisitos então considerados indispensáveis. De notar que, ao longo do período salazarista, se foi reunindo aí uma biblioteca não desprezável.

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As Alminhas

Em Monte de Fralães há um único nicho de Alminhas. Data de 1725 e está longe de ser banal; tem alguns traços de classicismo, mas foi talvez de realização local. O painel era em madeira até há uns 30 anos; então foi substituído pelo actual, de azulejo. Tem sido um nicho muito procurado e também sempre bem zelado.
Não há nenhuma notícia sobre quem promoveu a sua construção.
Muito importante é reter que ele ficava à margem da estrada que vinha de Vila Nova de Famalicão e do Porto e que então Vila Nova de Famalicão se integrava no gigantesco concelho de Barcelos.
Consta que estes nichos se levantavam em locais onde tinham ocorrido mortes violentas. O lugar era então despovoado e por isso eventualmente propício a assaltos.

O mundo rural em mudança

Nos últimos 40 anos, Monte de Fralães, como todo o País rural, sofreu uma grande mudança. Chegou ao fim o tempo multimilenar da roca e do fuso (1), o que ainda restava dos foros; os animais de tracção foram substituídos pelo tractor, os antiquíssimos arados foram também postos de parte, o jugo artístico da tradição perdeu o seu lugar; o engenho ou nora cedeu perante o motor de rega, primeiro, e depois também ele substituído pela rega de aspersão; os homens, que até aí tinham a sua bicicleta, adquiriram motorizada e recentemente automóvel; meteu-se a energia eléctrica em casa, veio o rádio e a seguir a televisão, a habitação modernizou-se em comodidade, a roupa de vestir actualizou-se e ganhou variedade, a dependência da agricultura acabou perante uma oferta de emprego mais variada e recompensadora, instalaram-se pequenas unidades industriais, a prática religiosa esmoreceu. Os encontros entre as pessoas, que noutros tempos dependiam da vivência religiosa ou de rudimentar vida social, ocorrem agora no moderno café.
Nesta profunda mudança pesaram diversos factores, como a emigração para a França e Alemanha e a progressiva industrialização do País.
Nesta verdadeira embora lenta revolução, muitos valores se perderam e ninguém cuidou de guardar deles memória. Por exemplo, a habitação tradicional, que na freguesia em muitos casos vinha do séc. XVIII, desfigurou-se irremediavelmente, a ponto de se não justificar colocar aqui a imagem de nenhuma casa. O carro de bois destruiu-se, os jugos venderam-se ou apodreceram.
Nos anos 60, criou-se na freguesia uma fábrica, a Sibol, que manteve activa durante umas quatro décadas, chegando a empregar largas dezenas de trabalhadores, quer de Monte de Fralães quer das freguesias vizinhas.
Desde há cerca de 30 anos, o Posto da Galp, com o seu café e oficina auto, têm trazido à freguesia muita gente. O conjunto, que pertenceu originalmente a um brasileiro abastado, o «Ferreira de Chavão», foi planeado com largueza e gosto muito apreciados.

(1) Veja-se como terminou numa casa o uso da roca segundo contou na Escola C+S de Viatodos um aluno:

Quando minha avó se casou, foi viver apara uma casa onde viviam com dificuldades.
À noite, no fim do trabalho, vinham comer a sopa e depois de arrumar a cozinha, a minha avó gostava de fiar linho para ganhar um bocadinho de dinheiro.
Mas o meu avô não gostava que ela ficasse até tarde a fiar.
Um dia, em que ela nunca mais se ia deitar, ele, admirado, levantou-se e veio muito caladinho espreitar. Ela tinha-lhe vindo o sono, estava a dormir em frente à lareira com a sua rouca de linho. Ele chegou fogo à roca. Achava graça. Ela estava dormir.
Quando acordou, a roca e o linho estavam a arder e ela gritou para o marido: “Ai, lá se vai a minha roca e o meu linho!” E chorava muito.
Mas o meu avô dizia-lhe: “Acabou o teu trabalhinho!”
Mas ela continuou a fiar e agora tem muitos lençóis de linho para dar aos netos.

Helena Costa Araújo e Stephen R. Stoer, et alii, Genealogias nas Escolas: a Capacidade de nos Surpreender, Col. Ser Professor, Ed. Afrontamento, p. 62-63.

Imagens: Quinta da Porta, antiga Escola Primária, Alminhas, exemplo de renovação do parque habitacional e comercial.

Casas com história

O edifício actual do Solar de Fralães não é a casa original dos Correias. Essa ficou sem dúvida mais acima, mas quase no fundo da encosta do monte, onde houve o lugar do Paço, muito próximo da Chã, que aliás era reguenga.

Este edifício parece ter passado por um período de compeensível e acentuada ruína no séc. XIX. Ao menos é o que se deduz de certo soneto de Barbosa Campos e do que escreveu Teotónio da Fonseca.
Terá sido a Marquesa de Monfalim e seu marido quem procedeu à sua recuperação. Ao contrário do que escreveu o autor de Barcelos Aquém Alem-Cávado, a reconstrução romântica do solar aproveitou muito do que já havia. Sabemos isso pela descrição da Corografia Portuguesa e por documentos como as Memórias Paroquiais e mesmo o Livro dos Acórdãos. A torre é sem dúvida quatrocentista e igualmente o devem ser várias portas do rés-do-chão.
No século XVIII, já tinha havido obras: foi feita a sala de audiências e a cadeia. À sala de audiências chamou-se também tribunal. Da Casa da Porta chegaram até nós bastantes notícias. Era a segunda da freguesia, logo a seguir ao Solar dos Correias ou de Fralães. Em tempos recentes, tinha edifício próprio para três caseiros e ainda para o feitor. Ao tempo das Lutas Liberais já homens desta casa residiam na Rua das Flores, do Porto, então a rua chique da cidade. Nasceu nela o pianista e compositor Luís Costa.
Como uma senhora da Porta casou com um filho do médico Henrique Gomes de Araújo, senhoras da casa ajudaram aquele médico a verificar o jejum da Beata Alexandrina.
A Quinta da Porta possui um conjunto muito significativo de documentos antigos, que não estão estudados. Segundo Teotónio da Fonseca, a quinta desmembrou-se da Casa de Fralães já no século XVI.
Pelo meio do séc. XX, um filho dum caseiro da Porta entrou na ordem franciscana. Era o Pe. Manuel.

A Casa do Rio era uma casa de certa dimensão e com terrenos férteis. No século XVIII, há notícia dum Fr. Manuel aí nascido. No princípio do séc. XX, casou para lá Aires Campos, depois conhecido por Aires do Rio. Veja-se noutro lugar o que sobre ele se escreve.

Na primeira metade do séc. XX, houve duradoura rivalidade entre a Casa do Rio e a Casa da Granja. Esta casa também terá sido abastada. O edifício foi recentemente reconstruído e largamente ampliado. Houve um juiz do Couto de Fralães que era da Casa dos Silveiras; outro foi do lugar do Paço. Certamente houve juízes de outras casas, mas muitas vezes não é possível relacionar os seus nomes com elas. De resto sabe-se que os cargos municipais eram evitados pelas pessoas abastadas.
No cimo do monte d’Assaia, foi construída uma capela em honra de Nossa Senhora do Livramento aí por 1720; demoliram-na no séc. XX
No mesmo monte, houve vários moinhos de vento; ainda lá estão as construções redondas de pedra onde ficavam as mós e sobre que se enfunavam as velas. No lugar do Paço, houve um moinho a água.

Imagens: Solar de Fralães, porta antiga do mesmo solar, recibo duma renda à Marquesa de Monfalim, a última dona nobre do Solar de Fralães, lintel da antiga Casa da Porta, portal destruído da Casa dos Silveiras, lintel duma casa de Urjães (tem umas figuras em relevo), lintel de outra casa de Urjães.

O brasão e a bandeira

Em tempos recentes foi superiormente determinada a criação dos brasões das freguesias. Veja-se a descrição do de Monte de Fralães:
Brasão: escudo de prata, um monte de verde movente da ponta e rematado por torre quadrangular de negro, frestada, aberta e lavrada de ouro, entre um galo de vermelho, volvido e um crescente de azul. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: "MONTE DE FRALÃES".
Bandeira: Azul. Cordão e borlas de prata e azul. Haste e lança de ouro.

Memória Descritiva dos Símbolos Heráldicos

O galo e o crescente, tendo por base o "Livro heráldico", referem-se essencialmente à questão histórica. Atributos equivalentes à bravura, vigilância e vitória sobre os Mouros.
De facto, a fundação desta freguesia é inquestionavelmente remota: são muitas as páginas interessantes que relatam a história desta pequena localidade ligada à antiquíssima "Honra de Fralães", pertença da família dos Correias, cujo primeiro senhor conhecido foi D. Paio Ramires, um Rico-Homem em Portugal, no tempo de D. Afonso VI, rei de Leão; teve como sucessor D. Soeiro Pais Correia. Conta-se que tendo este sido sitiado pelos mouros em Montemor-o-Velho e caindo em carência absoluta de subsistência, D. Soeiro Pais Correia se sustentou, durante algum tempo, das correias da sua armadura e dos arreios do seu cavalo. De facto, é bem mais provável que o apelido Correia derivasse dum cargo militar do tempo da reconquista.
A torre lembra o antigo Solar dos Correias. Durante os séculos XVI e XVII, a Casa de Fralães esteve ligada às relações portuguesas com o Oriente.
O genealogista quinhentista D. João Ribeiro Gaio evoca-a nos seguintes versos:

Fralães é o solar
Que aos Correias deu o ser,
E Dom Paio veio a ter
O qual fez o sol parar
Para os mouros vencer.

Na casa da Quinta de Fralães tiveram assento os Paços do antigo Concelho da Honra e Couto de Fralães.
O monte é facilmente identificado se tivermos em conta o próprio nome tradicional da freguesia: S. Pedro do Monte de Fralães.

Delimitação da freguesia

Pelos anos 20 ou 30 do século passado, Aires do Rio redigiu um apontamento onde abordou a questão das delimitações de Monte de Fralães. Começou por declarar:

É também pouco populosa, pois tem apenas 33 fogos, mas em área de terreno é larga como qualquer outra mais populosa.

Depois continuou:

Haverá uns quarenta anos mais ou menos que ao organizar-se a matriz predial do concelho os louvados que procederam à avaliação das propriedades da freguesia reduziram-na muito em benefício da de Viatodos, como que esta freguesia não fosse já bastante grande para caberem nela certos homens que têm por tema serem grandes à costa dos outros. (…)
Os proprietários desta freguesia desta época não protestaram com isso como lhe competia, (…)
É porém necessário fazer luz sobre este caso, para esclarecimento da posteridade – se quiserem, protestar contra esta monstruosidade.
Para dar o verdadeiro conhecimento, vou dar a directriz do marcos da freguesia, para a todo o tempo poderem reaver as terras que lhe foram usurpadas, a fim de o fazerem sem dificuldades.
Principiamos pelo marco que está no monte da Saia, próximo ao caminho, lado direito, que segue para Lagarém. Deste marco a delimitação da freguesia segue em linha recta a outro que existe no lugar do Pinsal, no alto do referido monte, e daí segue em linha recta através do Campo do Ouro – Alto do Livramento – pela encosta de Chavão, onde tem uma cruz em cima dum penedo. Daqui segue na costa de Grimancelos até aos moinhos de vento, que pertencem a Fralães. Daqui segue algum tempo entre Grimancelos e Viatodos até ao lugar da Varziela, onde existe um marco em cima da parede do prédio do Domingos da Silva Carvalho, o Leitão, com frente para o caminho que vem do lugar da Ponte para o Xisto.


Título do limite de Viatodos com S. Pedro do Monte
(Tombo de Viatodos de 1548)

Item, o limite e demarcação desta igreja de Viatodos começa a departir com S. Pedro do Monte no Regadio, abaixo da Bouça Nova, no Termindal onde acaba com S. Salvador de Silveiros e dali pela água da fonte da Barroca, que está na bouça nova de Fralães a Barroca que está da banda do poente e da dita Barroca e fonte direito à pedra da Verpilheira e da dita pedra ao marco que está na bouça da Cruz, que agora é do casal do Rio, e do dito marco direito ao marco que está no campo da Porta, que se agora pôs à riba da macieira e do dito marco direito ao penedo que está na Barroca, onde ora puseram uma cruz, e dali pelo moinho da Varziela, e do dito moinho ao marco que está no campo da Varziela e do dito marco sobe ao monte, águas vertentes para Viatodos, até ao cume da serra, onde chamam o monte da Saia, e dali a Carritel; e aqui acaba o dito limite e demarcação entre as ditas igrejas de S. Pedro do Monte com a dita igreja de Viatodos e deixa S. Pedro e começa com S. Mateus.
A qual demarcação e limite disseram e demarcaram e mostraram João Martins e João Gonçalves, de Viatodos, e Gonçalo Afonso, da Porta, e Rodrigo Afonso, da Porta, e Martinho, do Rio, e Duarte Luís, de Meleio, e Pêro Afonso da Costa, fregueses da igreja de S. Pedro, todos lavradores antigos e de boas consciências, pelo juramento dos Santos Evangelhos que lhe por mim notário foi dado e notificada a carta atrás do senhor provisor, tudo em pessoa do senhor Simão Barbosa, abade da dita igreja de S. Pedro, e do dito procurador do dito abade de Viatodos.
Testemunhas que andavam presentes: o senhor Garcia da Cunha, fidalgo da casa de El-Rei nosso senhor, e Simão de Faria, notário apostólico, e outros, e eu, Diogo Veloso, notário apostólico que isto escrevi e presente fui.
Hoje, vinte e um dias de Março de mil quinhentos e quarenta e oito anos.


Imagens: Bandeira da freguesia, Castelo de Montemor-o-Velho, placa a dar as boas-vindas pela entrada na fregusia.

TARDE DE AGOSTO

Domingo. O sol molesta,
Incendeia o horizonte.
Tocam sinos à festa
Em S. Pedro do Monte.

Num ramo de giesta
Canta um melro defronte.
É poeta: manifesta
O estro de Anacreonte.

Nos fios telefónicos
Andorinhas baloiçam...
Outras cruzam pelo ar.

E risonhos, harmónicos,
Os sinos de há pouco – oiçam! –
Repicam sem cessar.

Viatodos, 1944

Matias Lima

Neste sonetilho, a Monte de Fralães ainda se lhe chama o seu antigo e popular nome de S. Pedro do Monte.
Anacreonte foi um poeta grego do séc. V a.C.