sábado, 31 de outubro de 2009

O brasão e a bandeira

Em tempos recentes foi superiormente determinada a criação dos brasões das freguesias. Veja-se a descrição do de Monte de Fralães:
Brasão: escudo de prata, um monte de verde movente da ponta e rematado por torre quadrangular de negro, frestada, aberta e lavrada de ouro, entre um galo de vermelho, volvido e um crescente de azul. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: "MONTE DE FRALÃES".
Bandeira: Azul. Cordão e borlas de prata e azul. Haste e lança de ouro.

Memória Descritiva dos Símbolos Heráldicos

O galo e o crescente, tendo por base o "Livro heráldico", referem-se essencialmente à questão histórica. Atributos equivalentes à bravura, vigilância e vitória sobre os Mouros.
De facto, a fundação desta freguesia é inquestionavelmente remota: são muitas as páginas interessantes que relatam a história desta pequena localidade ligada à antiquíssima "Honra de Fralães", pertença da família dos Correias, cujo primeiro senhor conhecido foi D. Paio Ramires, um Rico-Homem em Portugal, no tempo de D. Afonso VI, rei de Leão; teve como sucessor D. Soeiro Pais Correia. Conta-se que tendo este sido sitiado pelos mouros em Montemor-o-Velho e caindo em carência absoluta de subsistência, D. Soeiro Pais Correia se sustentou, durante algum tempo, das correias da sua armadura e dos arreios do seu cavalo. De facto, é bem mais provável que o apelido Correia derivasse dum cargo militar do tempo da reconquista.
A torre lembra o antigo Solar dos Correias. Durante os séculos XVI e XVII, a Casa de Fralães esteve ligada às relações portuguesas com o Oriente.
O genealogista quinhentista D. João Ribeiro Gaio evoca-a nos seguintes versos:

Fralães é o solar
Que aos Correias deu o ser,
E Dom Paio veio a ter
O qual fez o sol parar
Para os mouros vencer.

Na casa da Quinta de Fralães tiveram assento os Paços do antigo Concelho da Honra e Couto de Fralães.
O monte é facilmente identificado se tivermos em conta o próprio nome tradicional da freguesia: S. Pedro do Monte de Fralães.

Delimitação da freguesia

Pelos anos 20 ou 30 do século passado, Aires do Rio redigiu um apontamento onde abordou a questão das delimitações de Monte de Fralães. Começou por declarar:

É também pouco populosa, pois tem apenas 33 fogos, mas em área de terreno é larga como qualquer outra mais populosa.

Depois continuou:

Haverá uns quarenta anos mais ou menos que ao organizar-se a matriz predial do concelho os louvados que procederam à avaliação das propriedades da freguesia reduziram-na muito em benefício da de Viatodos, como que esta freguesia não fosse já bastante grande para caberem nela certos homens que têm por tema serem grandes à costa dos outros. (…)
Os proprietários desta freguesia desta época não protestaram com isso como lhe competia, (…)
É porém necessário fazer luz sobre este caso, para esclarecimento da posteridade – se quiserem, protestar contra esta monstruosidade.
Para dar o verdadeiro conhecimento, vou dar a directriz do marcos da freguesia, para a todo o tempo poderem reaver as terras que lhe foram usurpadas, a fim de o fazerem sem dificuldades.
Principiamos pelo marco que está no monte da Saia, próximo ao caminho, lado direito, que segue para Lagarém. Deste marco a delimitação da freguesia segue em linha recta a outro que existe no lugar do Pinsal, no alto do referido monte, e daí segue em linha recta através do Campo do Ouro – Alto do Livramento – pela encosta de Chavão, onde tem uma cruz em cima dum penedo. Daqui segue na costa de Grimancelos até aos moinhos de vento, que pertencem a Fralães. Daqui segue algum tempo entre Grimancelos e Viatodos até ao lugar da Varziela, onde existe um marco em cima da parede do prédio do Domingos da Silva Carvalho, o Leitão, com frente para o caminho que vem do lugar da Ponte para o Xisto.


Título do limite de Viatodos com S. Pedro do Monte
(Tombo de Viatodos de 1548)

Item, o limite e demarcação desta igreja de Viatodos começa a departir com S. Pedro do Monte no Regadio, abaixo da Bouça Nova, no Termindal onde acaba com S. Salvador de Silveiros e dali pela água da fonte da Barroca, que está na bouça nova de Fralães a Barroca que está da banda do poente e da dita Barroca e fonte direito à pedra da Verpilheira e da dita pedra ao marco que está na bouça da Cruz, que agora é do casal do Rio, e do dito marco direito ao marco que está no campo da Porta, que se agora pôs à riba da macieira e do dito marco direito ao penedo que está na Barroca, onde ora puseram uma cruz, e dali pelo moinho da Varziela, e do dito moinho ao marco que está no campo da Varziela e do dito marco sobe ao monte, águas vertentes para Viatodos, até ao cume da serra, onde chamam o monte da Saia, e dali a Carritel; e aqui acaba o dito limite e demarcação entre as ditas igrejas de S. Pedro do Monte com a dita igreja de Viatodos e deixa S. Pedro e começa com S. Mateus.
A qual demarcação e limite disseram e demarcaram e mostraram João Martins e João Gonçalves, de Viatodos, e Gonçalo Afonso, da Porta, e Rodrigo Afonso, da Porta, e Martinho, do Rio, e Duarte Luís, de Meleio, e Pêro Afonso da Costa, fregueses da igreja de S. Pedro, todos lavradores antigos e de boas consciências, pelo juramento dos Santos Evangelhos que lhe por mim notário foi dado e notificada a carta atrás do senhor provisor, tudo em pessoa do senhor Simão Barbosa, abade da dita igreja de S. Pedro, e do dito procurador do dito abade de Viatodos.
Testemunhas que andavam presentes: o senhor Garcia da Cunha, fidalgo da casa de El-Rei nosso senhor, e Simão de Faria, notário apostólico, e outros, e eu, Diogo Veloso, notário apostólico que isto escrevi e presente fui.
Hoje, vinte e um dias de Março de mil quinhentos e quarenta e oito anos.


Imagens: Bandeira da freguesia, Castelo de Montemor-o-Velho, placa a dar as boas-vindas pela entrada na fregusia.

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