Na sua Pedatura Lusitana, ao começar a falar dos Correias, Cristóvão Alão de Morais afirma:
“O Solar dos Correias é a honra de Farlães (que assim se acha nas escrituras antigas, e não Farelães, como hoje corruptamente se diz). Está esta honra no termo de Barcelos, duas léguas e meia de Braga”.
E acrescenta:
“No livro da Leitura Nova que mandou fazer El-rei D. Afonso III, Conde de Bolonha, folhas 3, se acha a que se tirou de S. Pedro do Monte, Terra de Faria, e nela declaram as testemunhas: quod nullum fors faciunt, nec fecerunt Dns. Regi, quia est honor Dom Pelagii Corrigia.
E na freguesia de Santa Maria de Viatodos, folhas 30 do dito livro, diz uma testemunha: quod esta parrochia ista out est cautus ipsius Euliae ouet est Honor de Farlães, aut est Honor vetus de Ulvar.
E no livro dos devassos de El-rei D. Dinis, folhas 81, no termo da terra de Faria, se diz: Item a freguesia de S. M.ª de Farlães o paço que foi de D. Payo Correia o velho é pgado que viram honrado, desde que se recordam as testemunhas, e de ouvida de longo tempo, e ficou honrada como estava”.
As citações em latim estão cheias de erros, mas remetem para textos autênticos. Podemos então resumir isto:
Em S. Pedro do Monte, que hoje se chama Monte de Fralães, fica o Solar dos Correias, e as Inquirições de D. Afonso III confirmam que a freguesia não só pertencia a D. Paio Correia (avô de D. Paio Peres Correia), como era Honra de Fralães, honra que se continuava pela vizinha freguesia de Viatodos.
Afirmações muito semelhantes às da Pedatura Lusitana vêm na Corografia Portuguesa, quando lá se fala da “Honra de Fralães”:
“Duas léguas de Barcelos, para a parte do sul e no meio das terras do seu termo, está a Honra de Casa de Fralães, solar do ilustre apelido de Correias (…)”
No século XVI, D. João Ribeiro Gaio tinha escrito: “Farelães é o solar / Que aos Correias deu o ser/ E D. Paio (Peres Correia) veio a ter (…)”
Os primeiros Correias documentados
Os primeiros Correias seguramente documentados são D. Paio Soares Correia e seus descendentes, mesmo que os pais deste D. Paio venham assinalados nos Livros de Linhagens.
Lá se diz que ele foi casado primeiro com D. Gontinha Godins, de quem teve D. Sancha Pais e D. Ouroana Pais Correia.
Casou depois com Maria Gomes da Silva e deste casamento nasceram Pêro Pais Correia e D. Maria Pais de Fiães (“Foannes” - Fiães fica em Gondifelos).
Todas estas pessoas vêm assinaladas nas Inquirições, não longe de Fralães.
Pêro Pais Correia, sempre segundo o Nobiliário, casou com Dórdia Pais, filha de Pêro Mendes, de Aguiar; veja-se agora a lista dos filhos deste casal:
O Mestre Paio Correia, João Correia, Martim Correia, Soeiro Correia, Gomes Correia, outro Paio Correia (dito Alvarazento), D. Mor Peres Correia e D. Sancha Peres Correia.
Nas Inquirições de Afonso III
É mais que provável que os Correias se tivessem colocado ao lado do Conde de Borgonha quando ele disputou o trono ao irmão. Depois, em 1258, o Grão-Mestre de Santiago era uma figura de grandíssima importância peninsular. Além do mais, tinha acabado definitivamente com o domínio mouro no sul de Portugal, e alguns de seus irmãos tinham-no acompanhado nas expedições bélicas. A família adquirira um estatuto muito diferente do que possuía em 1220. Por isso certamente, nestas segundas Inquirições os Correias têm uma visibilidade que não se descortinara antes.
D. Paio Soares Correia e a sua esposa
Se D. Paio Soares Correia fora ignorado em 1220, agora não o vai ser. Até o nome da sua primeira esposa aparece.
De Monte de Fralães (então S. Pedro do Monte, repetimos), afirma-se que “(...) nullum forum faciunt nec fecerunt Domino Regi, quia est honor vetus Pelagii Correya”: não fazem nenhum foro nem fizeram a El-Rei, porque é honra antiga de Paio Correia.
De Gresufes, incluída depois em Balasar, diz-se que “est honor vetus Domni Pelagii Corrigie veteris”: é honra antiga de D. Paio Correia, o Velho.
De Vicente (Santa Marinha de Vicente, anexada a Gondifelos, e que confinava com Gresufes), informa-se que (…) parrochia ista est honor Corrigiarum de veteri (...): esta paróquia é honra dos Correias desde antigamente.
S. Veríssimo (integrada posteriormente em Cavalões), (...) tota ista parrochia aut est honor illustri (sic) Regis Domini Alfonsi Primus, aut honor Domni Pelagi Corrigie, et in loco qui dicitur Cova nutriverunt Mariam Pelaiz Corrigiam et Sanciam Petri Gravel, et sic non est ibi locus per quod furare possit maiordomus: toda esta paróquia é honra do ilustre Rei D. Afonso I ou honra de D. Paio Correia, e no lugar que se chama Cova criaram Maria Pais Correia e Sancha Peres Gravel, e assim não há aí lugar por onde possa entrar o mordomo.
Além de o nome D. Paio Correia surgir ao lado do D. Afonso Henriques, foram ainda aí criadas a sua filha Maria Pais Correia e uma neta, Sancha Peres Gravel.
Em Nine, os lugares das Ouintãs e da Ribeira (…) sunt honoris veteris de pousada Domni Pelagii Corrigia: são da honra antiga da pousada de D. Paio Correia.
Finalmente, de Viatodos, ficamos a saber que (...) tota ista parrochia aut est cautum ipsius ecclesie aut est honor de Farlaes aut honor vetus de Ulvar, preter in Feverus (...): toda esta paróquia ou é couto da própria igreja ou é honra de Fralães ou honra antiga de Ulvar, fora Febros.
Curiosamente, todas estas terras ficam à margem do rio Este.
Mais longe de Fralães, a respeito de Nabais, ainda nos é dito o seguinte:
“Item, disse que Paio Correia comprou aí um casal de que davam a El-Rei a sexta em ração e não tinha aí qualquer avoenga nem entrada, e à sua morte doou-o ao Mosteiro de Várzea e desse casal fizeram dois recentemente”[1].
Em Viatodos o nome da esposa deste Correia surge três vezes.
“Item, disse que desta colação dão a El-Rei por ano da fossadeira, a saber, da herdade de Trás-o-Rio, de D. Gontinha, uma vara de bragal.
Item, disse que em Britelos, no casal que foi de D. Gontinha, criaram recentemente uma filha de João de Guilhade.
... e disse que não vê dar esta renda senão da quintã de Soeiro Afonso e da quintã de D. Gontinha, das quais davam cada um sua galinha”[2].
Ali ao lado, em Nine, também ocorre o nome da mesma senhora:
“Item, de hereditate de tras rivo Domne Gontine, j. vara de bragal”.
“Item, de quintana Domne Gontine, j. ansarem”.
Item, da herdade de Trás-o-Rio, de D. Gontinha, uma vara de bragal.
Item, da quintã de Trás-o-Rio, de D. Gontinha, um pato.
D. Pêro Pais Correia
Nas Inquirições, só encontramos a respeito do pai do Grão-Mestre de Santiago, em 1258, que a “Villa Casalis”, de Balasar “tota est onorata per Domnum Petrum Pelagii Corrigiam, qui ibi nutritus fuit, et multi ibidem defensi sunt per eum”: foi toda honrada por D. Pêro Pais Correia, que aí foi criado, e muitos lá se defendem por ele.
Repare-se no nome: D. Pêro Pais Correia, a saber, filho de Paio Correia.
Este amádigo é dos mais antigos realizados pela família. Convém lembrar que havia ali muito próximo, em Fiães, vários parentes desta criança.
Em 1258, Pêro Pais Correia, que era muito rico, ainda seria vivo.
O seu nome não ocorre, tanto quanto sabemos, por terras da mulher.
Ainda as mulheres de Fralães
Nestes tempos parece que os homens nobres no vigor da vida se deveriam dar à actividade guerreira, ao lado do seu rei, para acrescentar o património. As mulheres, essas ficariam provavelmente mais ligadas ao torrão natal. Por isso, se as encontramos nas redondezas de Fralães, isso é um argumento forte sobre a importância que este solar tinha para a família.
Já vimos o que se passava com as irmãs D. Sancha Pais e D. Ouroana Pais em 1220 e com D. Gontinha em 1258.
Vejamos o que se passava em Fiães, na antiga S. Marinha de Vicente. É preciso ter em conta que Feães ficava à margem duma estrada de certa importância, ao contrário, por exemplo de Fralães, e que a freguesia era toda honra dos Correias. Ao lado, em Gestrins, Balasar, havia um grande reguengo com pousada régia. E ao lado também, a sul, ficava Gresufes, uma freguesia que era também toda da família.
Em 1258, volta a ser assinalado, em S. Marinha de Vicente, o nome do marido de D. Sancha, Reimão Peres:
Em certa quinta, (…) criaverunt ibi filium Reymundi Petri et tollit septimam partem de fossadeira (criaram aí um filho de Reimão Peres e ele toma a sétima parte da fossadeira), e mencionam-se dois filhos de D. Maria Pais, de Fiães, os cavaleiros Rui Vasques Quaresma e Martinho Vasques.
D. Ouroana e seu marido também reaparecem em 1258 em S. Salvador de Silveiros (incluída na Silveiros actual):
“Item disse que Pedro Gravel, com a sua esposa D. Ouroana, comprou as herdades dos Maadinhos, como ouviu, que eram os herdeiros da mesma vila, e desde então o mordomo não põe aí o pé.
Soeirinho disse em tudo como o abade. Acrescentou também que sabe quando o mordomo entrava no dito casal da Carreira, e sabe quando Pedro Gravel com a sua esposa D. Ouroana compraram as ditas herdades”[3].
Uma mulher que andava um pouco arredada destas citações era D. Maria Pais Correia ou D. Maria Pais, de Fiães. De facto já surgira acima a propósito de S. Veríssimo. Com ela, apareceu também uma filha de D. Ouroana, Sancha Peres Gravel:
"E no lugar chamado Cova criaram MariaPais Correia e Sancha Peres Gravel, e assim não há aí lugar por onde o mordome possa entrar”[4].
D. Maria Pais Correia, que podia ter ido com a mãe, que se casou segunda vez, afinal instalou-se em Feães. Com quem casou? Com Vasco Martins Mogudo, de Sendim.
(1) Item, dixit quod Pelagius Corrigia comparavit ibi unum casale, de quo dabant Domino Regi sextam in ratione et non habebat ibi aliquam avolengam neque intratam, et ad mortem suam dedit illud monasterio de Varzena et de ipso casale fecerunt duo de novo.
No parágrafo que se segue a esta frase, menciona-se D. Ouroana e explicitamente se declara que ela é filha de D. Paio Correia.
(2) Item, dixit quod de ista collatione dant Domino Regi annuatim de fossadaria, scilicet, de hereditate de Tras Rivo Domne Guntine j. vara de bragali”.
“Item, dixit quod in Britelus, in casali que fuit Domne Guntine, nutriverunt modo filiam Joahnis de Guiladi”.
“(…) et dixit quod non vidit dare rendam istam nisi de quintana Suerii Alfonsi et de quintana Domne Guntine, de quibus etiam dant singulas galinas.
(3) Item dixit quod Petrus Gravel cum uxore sua Domna Ouroana comparavit hereditates de Maadinos, ut audivit, qui erant herdatores ipsius ville, et ex tunc maiordomus non misit ibi pedem.
Sueyrino dixit in omnibus sicut abbas. Addit etiam quod scit quando maiordomus intrabat in predicto casale de Carreira, et scit quando Petrus Gravel cum uxore sua Domna Ouroana comparaverunt predictas hereditates.
(4) in loco qui dicitur Cova nutriverunt Mariam Pelaiz Corrigiam et Sanciam Petri Gravel, et sic non est ibi locus per quod furare possit maiordomus.
Imagens: dois fragmentos do Nobiliário do Conde D. Pedro onde se assinalam os familiares próximos de Paio Peres Correa.
Sem comentários:
Enviar um comentário