quinta-feira, 29 de outubro de 2009

2 - Onde nasceu D. Paio Peres Correia?

O que ficou dito até aqui convence qualquer pessoa de que de facto Fralães foi a casa-mãe dos Correias, como aliás é consensual. Mas agora vem a questão decisiva: onde nasceu D. Paio Peres Correia?
Afinal, onde se encontravam então os seus pais nessa altura? Como é que o seu pai é tão pouco recordado por estas paragens? Como é que em 1258 a casa de Fralães ainda é de D. Paio Correia? E da mãe do Grão-Mestre de Santiago, que notícia há dela?
Para estas perguntas não há respostas inteiramente satisfatórias. Mas é possível aduzir factos que tornam credível a afirmação de que o futuro Grão-Mestre de Santiago foi uma criança de Fralães.
Como D. Paio Correia o Velho, também Pêro Pais Correia terá sido frequentador do paço. O nobiliarista Felgueiras Gaio traz duas informações bastante vagas sobre o pai do Grão-Mestre de Santiago que dão solidez a esta afirmação:
A este chamava a rainha D. Brites, mãe de D. Afonso III, “mi Padre”, como consta das Inquirições do rei D. Afonso. Devia ser por ele ter alguma inspecção na sua criação.
Embora a citação contenha o erro de dizer que a mãe de Afonso III se chamava D. Brites — D. Brites poderia ser era a segunda esposa deste rei — sugere que ele fosse frequentador da corte.
O mesmo autor regista ainda sobre ele a seguinte façanha pouco edificante:
... comprou uma quinta no Couto do Mosteiro de Roriz em que fez umas casas, que lhe quiseram impedir os priores dele, pelo que lhe matou dois religiosos, como consta das Inquirições do rei D. Dinis.
O casamento que Pêro Pais Correia fez com uma rica herdeira de terras de Aguiar e de Basto, herdeira que nem sequer tinha irmãos rapazes, mas apenas outra irmã..., tê-lo-á afastado de Fralães? Eis uma questão decisiva.
A nossa resposta, assente apenas no texto das Inquirições de 1258, é a de que parece que ele e sua família, para residência, deram preferência ao paço de Fralães sobre as terras do interior. Veremos o que se passou com alguns dos seus oito filhos — seis rapazes e duas raparigas.
Repare-se já contudo que a citação que o liga a Roriz o mostra cá próximo da costa.

Os irmãos de D. Paio Peres Correia

Recordemos a lista dos filhos de Pêro Pais Correia: Paio Correia (o Grão-Mestre de Santiago), João Correia, Martim Correia, Soeiro Correia, Gomes Correia, outro Paio Correia (o Alvarazento), D. Mor Peres Correia e D. Sancha Peres Correia.
O Nobiliário regista apenas os casamentos de três deles: João Correia, que casou com Elvira Gonçalves Taveira; Soeiro Correia, que casou com Teresa Martins Espinhel; D. Mor, que casou com Estêvão Peres de “Molles”.
De Gomes Correia sabe-se que foi casado com Maria Anes Redondo I, filha de João Pires Redondo I.
Se pouco nos adianta saber os nomes das esposas destes três Correias, adianta-nos bastante saber que D. Mor Pais Correia casou para Molnes, hoje Remelhe. Estêvão Peres de Molnes é largamente lembrado em 1258. Ocorre ao menos nas freguesias de Santo Adrião de Macieira, São Mateus de Grimancelos, Santa Leocádia de Pedra Furada, Mosteiro da Várzea, Santa Maria de Moure do Couto da Várzea, S. Lourenço de Alvelos, S. Tiago de Molnes, Santa Marinha de Remelhe e Arcos.
Se D. Mor fosse uma jovem de Basto ou Aguiar teria vindo casar nas Terras de Faria?
Veja-se como mais três irmãos de D. Mor tiveram interesses nas proximidades do Solar de Fralães.


João Peres Correia e Soeiro Peres Correia

João Peres Correia em Grimancelos protagonizou também ele um amádigo:
“Soeiro Soares Velho recebeu João Peres Correia de novo em certa herdade sua, da qual El-Rei perdeu voz e coima dos três filhos do sobredito homem e de mais se aí morarem”[1].
Em Remelhe, é um filho dele que é criado, com a mesma função:
“Estêvão Martins criou há pouco uma filha do cavaleiro Fernando Estêvão que lhe foi dada por D. João Correia.
Item, Mendo Gonçalves recolheu João Correia por filho”[2].
Em Arnoso, Santavaia, o próprio João Correia faz uma aquisição:
“Item, disse que João Correia adquiriu aí recentemente uma herdade foreira a El-Rei”[3].
Em Nine, vamos encontrar um filho deste João Peres Correia e o irmão Soeiro Peres Correia:
“Foram aí acolhidos João Lourenço da Cunha e Gonçalo, filho de João Correia, e Estêvão Martins, filho de D. Martim Jejuno, e Soeiro Peres Correia”[4].
Este Soeiro Peres Correia teve um genro natural do Louro, chamado João Pires Velho (Pedatura Lusitana) - familiar com certeza do Soeiro Soares Velho que recebeu João Peres Correia em Grimancelos.
Pela Pedatura Lusitana, sabemos ainda que a esposa de João Peres Correia se chamava «vulgarmente D. Maria de Fralães» e que uma sua filha casou para o Louro.


Gomes Peres Correia

São as seguintes as ocorrências do nome deste irmão do Mestre D. Paio Peres Correia:
Em S. João de Bastuço:
... nutriverunt ibi Gomecium Corrigiam (…): criaram aí Gomes Correia...
Importante esta informação: Gomes Peres Correia esteve ali em tenra idade.
No Louro:
“Item, da herdade de Gonçalo Rebordelo, um bragal desde antigamente, e a mulher de Gomes Correia toma a terça da terça deste bragal, menos uma décima, porque aí foi acolhida.
Se esteve no Louro na infância, era dali”[5].

Gomes Peres Correia «teve também uma acção importante na recon­quista. Em 1243, aparece a confirmar um privilégio do príncipe D. Afonso em que são doadas à Ordem de Santiago as vilas de Galera, Orce, e outras próximas, como recompensa dos serviços prestados aquando da recon­quista de Chinchila, e no mesmo ano, quando o futuro rei sábio confirma a doação dos castelos de Serra e do Alto Segura à Ordem de Santiago, Gomes Peres fica tenente de importante praça de Cieza.» (3).
Gomes Peres Correia «foi casado com Maria Anes Redondo, filha de João Pires Redondo I, um dos cavaleiros beneficiados no «Repartimiento» de Sevilha, e de Gontinha Soares de Melo» (4).

De D. Paio Peres Correia supõe-se que partiu cedo para Alcácer do Sal, para se fazer espatário. De facto, o seu nome não ocorre por cá.
Por terras de Basto, mencionam-se uma vez, em 1258, a esposa do filho Gomes Correia e uma outra vez os «filhos de Soeiro Correia». Nada mais. É bem diferente o que se passa cá por baixo.

[1] Suerius Suariz Velio recepit Joahnnem Petri Corrigiam noviter in quadam ereditate sua nova, de qua Dominus Rex perdit vocem et calump­niam de tribus filiis predicti hominis et de pluribus si ibi moraverint.
[2] Stephanus Martiniz nutrit modo filiam Fernandi Stephani militis, datam sibi a Domno Johanne Corrigia.
Item, Menendus Gunsalvi collegit Johannem Corrigia pro filio.
[3] Item, dixit quod Johannes Corrigia acquisivit ibi hereditatem forariam Domini Regis modo de novo.
[4] (…) fuerunt ibi collecti Joahnnes Laurencii de Cuyna et Gunsalvus Joahnnis Corrigia et Stephanus Martiniz, filius Domni Martini Jejunus, et Suerius Petri Corrigia.
[5] Item, de hereditate de Gunsalvo Revordelo, j. bragal de veteri et uxor Gometii Corrigie tollit terciam de tercia de isto bragali minus decima, quia fuit ibi collecta...

Sem comentários:

Enviar um comentário