sábado, 31 de outubro de 2009

O Pe. João Rosa


O Pe. João Rosa assina actas da Junta de Paróquia de Monte de Fralães entre Fevereiro de 1874 e Janeiro de 1875; dos párocos desta freguesia é o único de que ficou memória de intelectual: publicou o livro de viagens sob o título de Cavalgada, deixou um pequeno livro manuscrito (que pertenceu em tempos a Matias Lima), na Biblioteca Pública do Porto guarda-se um volume, devidamente encadernado, que é uma colecção de escritos impressos de vários autores e que pertenceu ao Pe. João Rosa (consultámo-lo um dia que andámos à procura de informação sobre o Visconde de Azevedo), colaborou com Martins Sarmento na aquisição da Laje dos Sinais e da Fonte da Pegadinha e espaços envolventes e organizou o espólio do seu tio, o Abade do Louro Domingos Joaquim Pereira, autor das Memórias de Barcelos (Viana do Castelo, 1892 - este espólio guarda-se na Biblioteca da Fundação Cupertino de Miranda, em V. N. de Famalicão).
A Cavalgada saiu em 1899 em livro, em Viana, quando o Pe. João Rosa era abade das Carvalhas e depois de já ter sido publicada, ao menos em parte, no jornal Aurora do Cávado. Tem duas dedicatórias, a primeira a José Joaquim de Oliveira, de Viatodos, “velho amigo e compadre” do autor, e a segunda a Teotónio José da Fonseca, de Rio Covo (Teotónio da Fonseca, ao escrever sobre as Carvalhas, recorda o P.e João Rosa como amigo). O livro conta um passeio por algumas freguesias de Barcelos e é anterior a A ver terras, do Abade de Canidelo, Pe. Sousa Maia, que é de género semelhante, de viagens e didáctico.
Nas actas da Junta de Paróquia de Monte de Fralães, salientam-se algumas da autoria do Pe. João Rosa, como:
«Acta sobre a nomeação do secretário, tesoureiro, revisão de inventário e necessidade de acudir à sacristia da Igreja paroquial», de 22/2/74, em que se decide pedir subsídio à Bula da Cruzada para a obra e uma subscrição voluntária na freguesia; «Acta sobre a subscrição voluntária para compor a Igreja», de 10/5/74; «Acta sobre a cobrança das esmolas da subscrição voluntária para as obras da Igreja Paroquial»; «Acta sobre o requerimento de petição de esmola do Cofre da Bula»; «Acta sobre a nomeação da comissão para a confecção das matrizes», de 21/1/75. Em 1877, a pedido da Confraria de Nossa Senhora da Saúde, elaborou o inventário desta irmandade.
As actas que se referem à Igreja Paroquial são importantes, já que a igreja de então era ainda «igreja velha», que no séc. XVI tinha sido deslocada do monte d’Assaia «à povoação». Como homem de cultura, não lhe escapava a urgência de a manter com dignidade, mesmo que provavelmente já utilizasse a Capela da Confraria.
Em Setembro de 1875, já se tinha realizado a obra da Igreja e também da residência, com um gasto de 110.600 réis, tendo vindo da Bula da Cruzada 80.000 e da subscrição voluntária 30.160.
Os livros da Confraria de Nossa Senhora da Saúde também lhe mereceram judiciosas anotações.
Veja-se aqui o “Título de aquisição do “Forno dos Mouros”, assinado pelo Pe. João Rosa.

Obras na Igreja Velha

  1. Acta sobre a subscrição voluntária para compor a Igreja
Aos dez dias do mês de Maio de mil oitocentos e setenta e quatro, reunidos em sessão o Reverendo Presidente, Vogais desta Junta e Regedor desta Paróquia de São Pedro do Monte de Fralães, abaixo assinados, em presença dos chefes de família desta freguesia que previamente haviam sido convocados, ele, Reverendo Presidente, depois de mostrar seu grande interesse pela reparação da Igreja e Sacristia paroquial, declara em quanto os peritos que haviam examinado a obra, publicamente orçaram e mais a fazer-se e pintar a grande vantagem resultante de acudir agora à Igreja e Sacristia antes que o tempo aumentasse os estragos, propôs como alvitre e meio mais eficaz a seguinte subscrição voluntária:
Lugar do Rio:
Joaquim da Silva Araújo, 500 réis
Mariana Gomes, viúva, 1.300 réis
Bernarda de Araújo, solteira, 30 réis
Porta:
Simeão Maria Carneiro, 6$200 réis
Joaquim de Araújo Cancela, 1$000 réis
Urjães:
Manuel José da Silva, $500 réis
Luscos:
Francisco José da Silveira, 2$500 réis
Antónia Joaquina, viúva, 1$200 réis
Manuel de Araújo, 1$000 réis
António José de Araújo, 1$000 réis
Granja:
Manuel José de Araújo, 500 réis
Manuel Coelho de Moura, 1$500 réis
Teresa Gonçalves da Cunha $500 réis
Domingos Fernandes, $400 réis
Manuel Francisco Pereira, 1$200 réis
António Gomes da Silva, $400 réis
Monte:
Domingos da Silva Araújo, viúvo, $200 réis
João da Silva Araújo, 2$300 réis
António de Araújo, 1$000 réis
Maria Carneiro de Araújo, viúva, $500 réis
José Gomes da Silva, $500 réis
Ana Fernandes, solteira, $200 réis
Joaquina de Araújo, solteira, $400 réis
António Gomes de Faria, 1$500 réis
António José Loureiro, $400 réis
Manuel José Ribeiro, 1$000 réis
Quinta:
José Correia de Campos, 1$500 réis
Rodrigo de Araújo, 2$000 réis
Residência:
Maria de Campos, viúva, $400 réis
Soma tudo: trinta e três mil cento e sessenta réis.
Com a qual subscrição, apesar de pesada para alguns paroquianos, todos, atendendo à necessidade actual, se conformaram e comprometeram suas palavras a pagar as ditas quantias voluntariamente, a fim de com a maior brevidade se acudir às ditas urgências. E, para assim constar, se lavrou esta acta que eta Junta vai assinar.
O Presidente, o Pároco João Pereira Gomes Rosa.

Sobre a Igreja Velha na Colecção de vários apontamentos, págs. 3-4

  1. Fralães ou S. Pedro do Monte
Monte (S. Pedro) no Concelho de Barcelos, freguesia conhecida pelo nome de Fralães ou Farelães, parece que antigamente se devia escrever Fragães em razão desta antiga povoação estar situada sobre fragas: próximo à igreja ainda há hoje o lugar chamado da Fraga.
Em 1714, descia-se da porta principal para o pavimento por três escada ou degraus de pedra que entre os anos de 1715 e 1716 foram soterrados, ficando o pavimento, desde a porta principal até à capela-mor, em nível, levantando-se por nessa ocasião as paredes da igreja e arco cruzeiro proporcionalmente e reformando-se o tecto a expensas do Abade Aleixo e fregueses.
Por disforme incómoda se tirou uma antiga pia de baptismo que, junto à porta travessa, retinha a água benta e em seu lugar se colocou na parede uma pequena que actualmente serve ao mesmo mister.
Esta antiquíssima pia baptismal e depois de água benta é a que eu achei na residência e em     mandei pôr na Capela de Nossa Senhora da Saúde, para a água benta, sobre uma coluna de pedra, ao lado da epístola, junto da porta principal.

  1. Bênção da Via Crucis
Aos dezanove a dias do mês de Setembro do ano de mil oitocentos e setenta e cinco, o Reverendo João Pereira Gomes Rosa, encomendado que foi nesta Igreja de S. Pedro do Monte de Fralães, com autorização do Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Núncio Apostólico neste Reino, benzeu e colocou solenemente as estações da Via Crucis dentro da Igreja Paroquial desta freguesia. E para a todo o tempo constar a sua erecção canónica, escrevo esta nota.
S. Pedro do Monte de Fralães, 9 de Dezembro de 1875.
O encomendado António Ferreira da Cunha

  1. Contas das obras na Igreja e na residência
São Pedro do Monte de Fralães, concelho de Barcelos, respeitante (ao ano de) 1874-1875.

Despesa
Parcial
Total
Extraordinária


Despendeu-se com o reconhecimento do recibo para receber o subsídio
    $200

Com perfumar e sagrar o cálice e patena da paróquia
  2$760

Com a compra do vaso para levar o Viático aos enfermos
  2$000

Com o carpinteiro António de Araújo Campos, de madeiras, pregagens para os telhados e forros e acampamento da Igreja e feitios
46$000

Com o carreiro de pedra na mesma Igreja Paroquial
 3$000

Com respaldar as paredes da mesma
   $320

Com um carreto de telha
   $900

Com desaterrar a Igreja
   $300

Com carretos de barro e saibro
   $360

Com traçar a cal
   $240

Com carreto da mesma
   $400

Com compra da mesma cal
  5$760

Com o carpinteiro Cunha, da obra feita na sacristia, jornais
  6$000

Tabuado para a mesma obra
  4$250

Ferro
  2$000

Carreto de tabuado e forro
   $200

Telha
  1$400

Carreto dela
    $500

Com o caleador da Igreja e sacristia
  7$980

Pregagens, ferragens e ganchos para a Igreja
  1$00

Com o pintor da Igreja e sacristia
12$000

Com o caixilho e vidros para a residência
  2$675

Com o caleador da dita
  2$000

Com o tabuado para a dita
  1$875

Com pregos para a dita
    $400

Com jornais aos carpinteiros da dita
  1$800

Com duplicados para os assentos paroquiais de 1874 a 1875
    $480

Com dois livros para os assentos de casamentos e óbitos
  1$100


110$600



110$600

E na sobredita forma houve a Junta estas contas por bem dadas, tomadas e aprovadas em, sessão de 18 de Setembro de 1875.
O Presidente…………… O Pároco António Ferreira da Cunha
O Regedor…………….. Manuel Coelho de Moura
O Vogal……………….. Rodrigo de Araújo
O vogal tesoureiro

Imagens a partir de cima:
Página de rosto da Cavalgada.
Títutlo da "Colecção de vários apontamentos históricos".
Uma acta da Junta de Paróquia de Monte de Fralães escrita e assinada pelo Pe. João Pereira Gomes Rosa.

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